domingo, dezembro 31, 2006

Happy New Year

Para todos (ou quase todos) desejo um 2007 repleto de sonhos, paz, luz, amor, dinheiro, mas sobretudo FELICIDADE!!!

Que 2006 passe à história e que o novo ano nos traga tudo o que desejámos!!!

Um bom ano, e que os relexos dos fogos de fim de ano brilhem no céu durante doze meses!!!

As estrelas estão sempre lá e todas as vinte e quatro horas surge um novo dia. Que mais é preciso?

Mais uma vez HAPPY NEW YEAR!!!




terça-feira, dezembro 26, 2006

Acabou!!!

Passou o natal, passou a amizade, passou a caridadezinha, passou o amor pelo próximo, passou a tolerância, passou a hipócrisia.
Finalmente saiu de cartaz a peça que se costuma representar no teatro da quadra natalícia.
Acabou-se!

Amanhã voltamos todos ao mundo real. Áquele mundo onde os presentes são envenenados. Áquele mundo onde as pessoas são apenas pessoas e já não tentam disfarçar-se de anjinhos papudos.

Amanhã volta o trabalho, volta a rotina, volta o trânsito, voltam as guerras no telejornal e as crianças que nunca fizeram férias para morrer de fome. Aquelas que não têm férias de natal porque nem sequer sabem o que é escola. Aquelas que não têm o que comer mas que não são menos crianças que as outras.
Amanhã já não é natal, e podemos ser maus de novo. Maus como sempre, ou apenas humanos normais.
Amanhã, já ninguém se lembra que continua a estar frio para quem vive na rua, e nenhum de nós se irá atrasar no horário do emprego para comprar algo desnecessário para quem já tudo tem.
Amanhã acabou-se a tolerância, o “puxa-saquismo” e o tempo da “engraxadela anual ao tio da província”. O mundo amanhã volta a ser a selva do costume.

Mas, felizmente ontem, hoje ou amanhã, tu e eu podemos conversar livres e soltos. Podemos sentir as emoções do costume sem ter de dar nenhum valor especial ao
calendário.
Amanhã, tu vais, como sempre levantar-te comigo e acompanhar-me todo o dia como uma luz que me ilumina permanentemente, desde um de Janeiro até trinta e um de Dezembro.

É verdade:
Amanhã vou-te dar uma rosa.
Amanhã, só amanhã, porque o teu jardim já está vazio dos visitantes de ocasião e não corremos o risco de ser interrompidos nas nossas trocas de olhares.
Amanhã o vermelho da rosa vai ter a côr do coração. Do meu e do teu. Como sempre, vermelho. A nossa côr!

Amanhã, como todos os dias, para nós é uma data especial.
Amanhã, já falta menos um dia para nos abraçarmos.
Amanhã falta menos um dia para o nosso natal.

Então até amanhã!

domingo, dezembro 24, 2006

Natal?

Olá minha rosa!

Estou triste.
Mais um natal, mais um ano, mais um dia, e eu aqui. Sem ti por perto.
Estou derrotado, desmotivado, desiludido. Estou sem força para enfrentar estes dias de alegria por fora e de sangue por dentro. Mas tem que ser.

Porque será que não posso comprar-te um presente de natal?
Porque será que não nos deixaram ser felizes, juntos, aqui?
O que será que fizemos para merecer este castigo da separação que só nos aumenta o amor e com ele a sensacão de ausência?
Porque será que amanhã se celebra um nascimento que só fez sentido com a morte?
Será que só a morte faz de nós grandes?
Não! Não posso concordar com isso.
Pelo menos contigo não, princesa.
Tu não. Tu não és assim.
De ti celebro o dia do teu nascimento, e todos os outros em que tive o privilégio de privar contigo em que pude olhar os teus olhos e dizer-te o quanto te amava. Felizmente foram tantas as vezes que to disse que me sinto feliz.
Nem que fosse só por isso, a minha vida tinha feito sentido.
Sinto-me feliz por to ter dito tantas vezes e por ter ouvido a tua resposta. Ainda hoje, e cada vez mais to tento dizer. Seja num post ou numa manhã em que me apetece adormecer de novo e sonhar contigo mas em que o mundo vulgar me chama.
A vida por cá continua igual.
As mesmas pessoas. Os mesmos problemas de sempre. A mesma hipócrisia. O mesmo sentimento de perda e de corrida pelo impossivel.

Espero que estejas bem.
Espero que estejas como mereces e como sempre sonhaste.
Na proa do navio, com os braços estendidos para o vento e o coração aberto ao amor.
Quero que saibas que cá ando. Mal, cabisbaixo, caminhando pela chuva fria dos dias sem ti, mas sabendo que um dia as nuvens se hão-de afastar para que se possa ver a luz do teu sorriso e sentir o calor do teu olhar.
Sei que não será ainda neste natal que poderei dar-te um presente, mas espera mais um pouco que eu não me vou esquecer de to dar.
Guardo-o bem junto ao coração e espero nesta vida, que na outra te possa ver rasgar o papel que o embrulha.
É um papel bonito. Acho até que nem está embrulhado em papel. Acho que está embrulhado em sonhos de luz e de cores berrantes como tu gostas, e quando o rasgares todo vais ver apenas um coraçãozinho. Fofo e quente como o teu. Pequeno, mas muito poderoso. Com poderes mágicos que nos levarão com tudo o que gostamos pelos caminhos infinitos do amor.
Vamos entrar numa viagem sem regresso porque regressar é morrer. Vamos partir num caminho de vida nova e com sentido. Numa vida sem perdas e sem sofrimento.

Amanhã é só mais um dia sem ti. Não é natal porque sem ti não há natal.
Amanhã é só um dia a menos nos que faltam sem te ver. Ainda bem que eles passam. É só por isso que ainda os celebro.
Aguarda-me nessa tua torre. Na torre mais alta do castelo. Naquela onde sempre quiseste estar. Não precisavas de ter fugido tão cedo. Aguarda-me minha princesa que nós ainda vamos viver muitos natais juntos. Esse castelo ainda vai ser nosso. Havemos de conquistá-lo aos infiéis.
Vai estando por aí que eu vou espalhando a tua luz o mais que possa por aqui.
Eu sei que é difícil fazer os outros verem a tua luz eterna num mundo onde toda a gente procura luzes fugazes, mas não te preocupes que já há muita gente que a vê, e cada vez será maior o número e com mais interesse porque a tua luz não transmite prazer imediato mas sim paz e amor. Esse lugar comum que faz tanto sentido quando se fala de ti!
Enfim, tinha tanto para te dizer que se não paro vou ficar colado a este teclado.
Só quero que não te desiludas comigo porque eu vou guardando o teu presente.
Não te esqueças do meu.
Eu estou sempre aqui. Disponível para ti e sei que estás comigo. Sempre!

Amo-te muito!
Eternamente. Seja natal ou seja lá o que fôr, eu AMO-TE GORDA!!!

sexta-feira, dezembro 22, 2006

Olá lua!


Olá princesa dos céus!

Eu sei que te tens sentido muito só, mas não fiques triste. Os humanos hão-de voltar a olhar para ti. Deixa passar esta quadra e tudo voltará ao normal. Todos nos voltaremos a encantar com a tua luz. Todos nós vamos de novo dar-te o valor que mereces e admirar tamanha beleza.
Sabes, todos andamos meios encandeados com as luzes que pairam sobre a cidade. Todos andamos meios zonzos com a azáfama dos presentes e com os preparativos do Natal.
Descansa um pouco, Lua. Aproveita para pensares e te renovares. Pensa que na tua face negra existe tanta beleza como na que é iluminada. Pensa que vales pelas duas e não só pela luz que refletes. Pensa que o mistério que se encerra na face não visível é completado pelo imenso e intenso branco da face que conhecemos. Pensa que ainda que todos os dias te vejámos não deixamos de te olhar, de te admirar e de te dirijir pensamentos lindos e desejos inconfessáveis.
Não fiques triste por não te ligarmos nesta fase de stress. Não nos leves a mal. Espera pelos ventos quentes do estio e logo verás que o nosso amor por ti se renova e que voltaremos a viver os dias durante a noite, iluminados pela luz crua que nos ofereces sem pedir nada em troca que não seja a contemplação da felicidade.
Aguarda lua.
Espera só mais um pouco que o teu tempo está quase de volta.

segunda-feira, dezembro 11, 2006

Parabéns Francisca!

Olá princesa!

Escrevo hoje com dedos mais suaves que o costume. Escrevo com as mãos suadas de emoção e com os olhos molhados de uma paixão imensa. Por ti, gorda.
Fazes hoje treze anos, e eu não posso deixar passar esta data sem que saibas que esta será sempre a data do meu Natal. Se o Natal é quando um homem quiser, eu quero que o meu seja hoje. Esta é a data em que eu recordo o aparecimento no meu firmamento da estrela que me guia e que me conduz diáriamente por este mundo frio e escuro como breu.
Hoje, para mim fazes anos, e ainda que os outros me achem louco eu penso assim. Desde o dia em que nasceste, até hoje, e até ao fim dos meus, podes acreditar que celebrarei este dia com imensa alegria. Decidi não dar espaço à tristeza e como tal vou sempre ter esta data no lado bom do calendário. Na minha vida já há demasiadas datas negras que se tornam minúsculas quando são iluminadas pelo brilho que esta encerra.
Pensei muito sobre o que havia de escrever neste dia. Pensei em escrever coisas lindas, textos bem estruturados, poesias cristalinas, mas decidi escrever apenas o que sinto. Decidi apenas dar-te os parabéns e dizer-te que estou feliz por hoje serem onze. Estou feliz por há treze anos ter tido a sorte e a luz de ser pai. O teu pai.

Estou triste, por não te ter aqui para festejar, e por não poder oferecer-te um bolo, uma festa e mil presentes. Estou triste por não te poder tocar, mas feliz por te saber sempre comigo.
Recordo com saudades as festas que tiveste, mas lembro com orgulho o momento em que na última em que cá estiveste tu me dizeres: “Pai, quero falar ás pessoas!”. Lembro-me que subiste a uma cadeira e disseste a todas as pessoas “Obrigado por estarem presentes. Quero dedicar esta festa a todas as pessoas que não tiveram festa de aniversário por causa de eu estar doente. Esta festa é vossa também.”
Esse é o teu registo e esse foi sempre o teu estatuto. Nobreza de carácter, atitude e determinação.
Quero dizer-te que ainda que passem cento e trinta anos eu nunca esquecerei todos os momentos que passámos, nem esse, nem todos os outros, e quero dedicar-te todos os dias da minha vida.
Hoje, quero que tenhas um dia bom e que festejes o momento em que te deste a este mundo, pequeno demais para te segurar por muito tempo.
Quero levar-te uma rosa (vermelha como tu gostas), ao sitio onde te vi partir e enviar-te um bolo pelos céus para que o partilhes com quem mais gostas. Quero dar-te os parabéns pelo dia do teu aniversário, mas principalmente pela vida que tiveste e uma vez mais agradecer-te pelo exemplo que me deste para toda a vida.

Durante dez anos estiveste sempre no teu melhor. Sempre linda e luminosa.
Para mim continuas assim.
É com saudade que recordo os anos em que me fizeste companhia aqui, mas compreendo que tivesses que partir. Sei que estás aqui comigo hoje e como tal quero dar-te um beijo e repetir as palavras que trocamos milhares e milhares de vezes e que fazem sentido, agora, mais que nunca:

AMO-TE MUITO, GORDA MALUCA.

Parabéns, vê lá se comes uma fatia por mim e não te esqueças de trincar as velas.



P.S.
Se puderes responde. Tu sabes bem como...





terça-feira, dezembro 05, 2006

Mensagem Urgente

Olá princesa!

Hoje vou escrever para ti. Só para ti.
Estou cansado desta vida de stress, desta vida dos efêmeros, que correm atrás de algo que não sabem bem o que é.
Estou cansado de correr, mas é a corrida e o stress que me vai mantendo vivo e com um sorriso excitado em cada dia.
Escrevo-te para te dizer que em cada minuto que passa tenho mais saudades tuas. Em cada dia que passa tenho mais vontade de te encontrar e mais desejo abraçar-te. Acho que isso é bom pois quando estiver de novo contigo vai ser muito melhor.
Sei que estás longe e que não me vais responder pois eu tenho o teu endereço mas tu não tens o meu, embora saibas sempre onde estou. Estou mesmo ao teu lado, sempre. Dás-me o privilégio de estar sempre comigo.
Não tens o meu endereço, mas comunicas comigo. É difícil explicar ás pessoas que isso se passa entre nós, mas que importância tem que eles não acreditem? Nós sabemos que é verdade, e isso basta!

Nesta altura do ano és o Sol que aquece o meu corpo, e és o calor que torna em vapor a humidade do meu chão.
Está de chuva por aqui, e eu não gosto de chuva. Sabes muito bem que, tal como tu, gosto de Sol no Zénite e calor no vento. Gosto do Verão e tu és o meu Verão.
Serás sempre o meu Verão, e ainda que um dia me mude para o Ártico e que a noite tinja de negro metade do meu ano, tu serás sempre o Sol que brilha incessantemente acima do meu horizonte e que derrete o gelo que teima em acumular-se à volta do meu coração.

Hoje estou cansado e vou dormir.
Preciso que me surpreendas. Preciso que nesta noite tenhas um dia, como os que costumavas ter e que me surpreendas como sempre fizeste.
Faz-me sonhar e voar no teu espaço, na tua dimensão.
Hoje estou disponível para voar. Hoje estou cansado, mas disponível.
Sinto-me leve e o meu espirito está aqui só para ti.
Se quiseres aproveitar dá-me a honra de me incluires no teu passeio pelas estrelas. Nem que seja só por um minuto.

Hoje quero viajar contigo pelos teus mais íntimos caminhos. Quero ouvir histórias da vida que tens levado longe de mim.
Um pai preocupa-se e eu não sou diferente dos outros. Tenho tido talvez menos noticias, mas não sou diferente.

Estou disponível e com muitas saudades, e como sabes que nos podemos encontrar de noite, visita-me hoje!
Há coisas que só te posso dizer ao ouvido.
O pessoal que frequenta este blog é fixe, mas também não precisa de saber tudo!

Se puderes vir ter comigo, optimo, mas se não puderes tudo bem.
Sei que há muita gente que precisa da tua luz. Talvez eu hoje possa esperar.

Beijos gordos!

domingo, dezembro 03, 2006

Natal

O Natal está aí à porta.

O ar da cidade enche-se de músicas calmas e cobre-se de luzes coloridas. Os figurantes circulam apressadamente pelas ruas numa azáfama imensa, tentando que nada lhes falte na noite maior do ano.
Enchem os sacos com sonhos de crianças, embrulhados em papeis estampados de fantasia. Anjos sorridentes, apertados por fitas douradas, espreitam das bagageiras húmidas dos carros que seguem passo a passo pelas ruas apertadas.
A mágica névoa de Dezembro, e o trânsito lento não são suficientes para desviar do seu rumo a mole humana que se dirije já para casa.
No regresso, nas vésperas do dia, rejubilam com os desejos que irão em breve tornar realidade e com as gargalhadas de satisfação que vão provocar.

Deixam para trás, na baixa da cidade, os figurantes indesejáveis que moram permanentemente no seu teatro dos sonhos. Deixam para trás todos aqueles que vivem todos os dias junto ás montras, tentando aquecer-se com as luzes que delas transbordam. Aqueles que passam as noites embrulhados em cartões ás portas das lojas de moda ou dos bazares de brinquedos.

Será que na pressa de agradar aos que os procuram no quente das lareiras, os anjinhos dos papeis lustrosos, se esqueceram de quem tanta companhia lhes fez no frio das ruas agora desertas?

Será que as luzes multicolores da cidade deixam de brilhar durante a noite de Natal?
Será que a música pára de ecoar por entre as paredes graniticas dos edifícios cinzentos da velha urbe nessa altura?
Claro que não. Tudo continua a ser como imaginámos.
Afinal é verdade que, Natal é todos os dias. Essa noite é apenas a confirmação da realidade.
Claro que os sonhos das crianças lhes continuam a inundar os pensamentos em todas as noites, e claro que também todas as manhãs há gente que sonha com um acordar diferente.

Cada um sonha com algo que parece impossível de alcançar. Cada um dos figurantes sonha por si, com os mesmos desejos egoístas de todo um ano.

Afinal, Natal é quando um homem quiser.
É pena que não seja ainda este ano...

sexta-feira, dezembro 01, 2006

Pombos

Na cidade dos vivos, os pombos pousam no centro da praça.
Com as suas trípedes patas pousadas nas pedras alinhadas, procuram o alimento no chão frio.
Os grãos que lhes são arremessados pelos que um dia tomarão parte na forma do seu solo são o seu combustível.
Procuram a energia em cada grão. A força que os faz voar. O bater das asas que se encontra encerrado em cada caloria ingerida, em cada grão que é esmagado pelo seu bico e digerido no interior do seu papo.
Os pombos ficam na cidade e as gentes voam para longe dela, como se fossem talhadas para voar mais alto ou mais longe, ou como se quisessem fugir da praça central.
Nem todos voam acima dos edificios pontiagudos, e dos telhados altaneiros da velha urbe.
É preciso ter coragem para tentar subir acima do horizonte de cimento, e estando lá em cima, visualizar a cidade nos seus mais íntimos segredos e nos seus mais fantásticos recantos

Tenho tentado ser um pombo livre , e escrever como se estivesse a partilhar com toda a cidade a minha angústia de não conseguir voar alto.
Peço perdão se o que escrevo magoa, mas deveis pensar que são só palavras ordenadas, emoções expostas!
Tento abanar as asas, mas nem sempre elas me elevam no éter.
Talvez esta não seja a melhor maneira de expiar a dor, mas se fizer bem a alguém, é muito gratificante para mim.
Além disso, quero a minha vida “posta ao sol”. Não tenho nada a esconder. Se quiserem venham comigo. Voem, e ajudem-me a seguir-vos.
A vida é o ar que nos rodeia e quanto mais batermos as asas mais o agitámos e mais alto nos elevámos.
Querem voar?
Venham comigo... não quero ficar só pela praça...

segunda-feira, novembro 27, 2006

Gotas de vida

E na manhã ainda escura, uma gota de orvalho escorre pelo vidro liso e frio rasgando atrás de si novos caminhos que serão em breve apagados pelo calor do astro rei e pela luz que dele emana.
No horizonte brilham serenamente as últimas estrelas, ainda que saibam que em breve o seu brilho não será capaz de rasgar a onda de luz que vem do cimo.
Nos ramos, abrigados, os pássaros preparam-se para acordar, e mesmo nas covas mais fundas os seres das trevas respondem ao dia que se avizinha.
Todos sentem o pulsar da vida. Todos eles se recolhem ou se preparam para um novo dia.
Para uns é tempo de descanso e para outros é tempo de acordar e de viver de olhos abertos, depois de terem passado pelos meigos braços de Orfeu, onde as sensações são quase reais e as desilusões são apenas pesadelos.

Já é quase manhã, e a gota que percorreu o vidro está já perto do remanso da madeira da janela, e talvez consiga ainda esta noite projectar-se para o abismo, antes que o ar a aprisione na sua imensa masmorra.
A sua viagem no desconhecido, ainda que efémera, é uma tentativa de fugir à prisão. É o sinal da persistência dos elementos.

A gota sabe que hoje é apenas uma impressão no vidro, mas se não conseguir saltar já, será transportada para uma nova realidade, ou para uma outra dimensão.
Será amanhã, talvez um pingente gelado pendendo mais perenemente sobre uma outra paisagem.
Passará então do quente do liquido ao granitico gélido do cristal sólido e será mais uma vez aprisionada até que o calor a liberte e a faça iniciar uma nova viagem...
Passará também pelos braços do seu Orfeu, e renascerá um dia para recomeçar tudo de novo.

Talvez volte à mesma janela onde esteve quase a ser feliz, e talvez tenha então tempo para saltar e cumprir o seu destino. Mesmo que não o consiga, deixará de novo a sua marca no vidro e voltará um dia, pois tal como as estrelas não se apressam a brilhar só porque o sol as vai ofuscar, também a gota sabe que tem tempo. Não precisa de se apressar...
Para uns é tempo de descanso e para outros é tempo de acordar, mas em todos a vida pulsa incessantemente.
O importante é não estar preso. O importante é tentar saltar. O importante é não desistir.

sábado, novembro 25, 2006

Marcas

Hoje queria muito escrever, sinto essa necessidade. Sinto por vezes que preciso disso como o meu peito precisa do oxigênio que o enche a cada golfada.
Sei que não vai sair nada de jeito, mas em todo o caso vou tentar porque hoje foi um dia especial.
Falta-me algo muito importante para que possa passar dos pensamentos ás palavras. Não me falta inspiração mas concentração. Estou eléctrico! Sinto-me a levitar!
Sei que não vai ser uma obra-prima literária, mas não posso deixar de partilhar o meu estado de espirito, ou o estado do meu espirito.
Acho que há certos dias nas nossas vidas que não podemos deixar de assinalar no mapa com uma marca de uma côr bem viva.
Hoje, para mim foi um dia desses.
O meu corpo esteve hoje com dificuldades imensas para segurar o espirito que ainda lhe pertence.
A razão é simples: hoje recebi asas. As asas que tanto pedi, e que pensei que nunca mais chegavam. Finalmente foram-me entregues. Finalmente!
Hoje alguém que não conheço, deu-me o que pedi: ASAS.

São lindas!
São brilhantes como prata mas leves como penas.
Finalmente posso voar sem medo de cair. Sem medo de conhecer. Sem medo de ver o mundo a partir de cima. Sem medo de nada.
Hoje tive a certeza que já aprendi a voar. Soube que já o fiz. Hoje e noutros dias já voei, mesmo sem saber, já planei por cima deste mundo que é ainda o meu, e que o que vi não era ilusão, mas sim realidade.
Hoje senti que já toquei, ainda que ao de leve, na fronteira de outros mundos ou de outras dimensões que não são as que normalmente habito.
Tive a confirmação da única certeza absoluta que ainda possuo. Tive a certeza que o amor é eterno. Não precisava que fosse confirmada para saber que era certa, mas dá sempre jeito. Tive-a, não pelos meus olhos, mas pelos olhos de quem não me conhece de todo.
Pode parecer estranho o que digo, mas é apenas a verdade. Não somente a verdade sentida, mas a verdade revelada. A verdade da imagem com os olhos bem abertos e não a verdade dos sonhos que alimentámos com pensamentos obsessivos.

Hoje estou feliz.
Arrepiado até à espinha, mas feliz, porque hoje sei que quando sinto os pés a levantar do chão, não estou a sonhar mas sim a voar como sempre quis fazer.
Estou feliz porque sei que da mesma forma que ninguém pode sentir a dor que sinto, também ninguém pode voar por onde eu voo.
Estou feliz porque sei que podemos fazer com que a nossa dor se regenere e se transforme em asas, para que possa chegar até ti, como por vezes tenho chegado.

quinta-feira, novembro 23, 2006

49

Olá!

Hoje é um dia triste.
Triste como todos os outros das nossas vidas.
Triste como a vida é triste e negra.

Porque será que os dias que festejamos com champanhe num ano, passam a ser celebrados com lágrimas no seguinte?
Porque será que os dias são tão marcantes quando pensamos neles como datas. Como marcos de pedra nos caminhos do nosso tempo?
Pedras nossas que ficam na memória para lá do tempo?
Pedras que nos marcam o tempo a vida e o espaço.
As nossas vidas a dada altura começam a ficar infestadas de pedras.
É dificil viver num mundo de granito enterrado no chão a marcar-nos o caminho.

Enfim!
Hoje tinha que escrever. Vai-me muita coisa na alma!
Não consigo é escrever mais, e deixo este texto para quem o quiser e puder entender.

Hoje fica só uma interrogação, um enorme PORQUÊ?

sábado, novembro 18, 2006

Leão com asas

Olá.

Estou aqui hoje para responder a um desafio que me foi lançado por uma blogamiga.
Falo de um desafio que é também um desejo meu de há muito tempo, mas mas que não podia concretizar enquanto não fizesse aquilo que tinha que fazer antes.

Hoje quero falar do meu Sol.
Quero mostrar-vos o meu Leãozinho.


Estas coisas das emoções têm as sua prioridades, e depois de ter partilhado convosco algumas tristezas, aflições e saudades, chegou o momento de partilhar a minha felicidade.
Sim, consigo ter felicidade. Sim, consigo ter vida para além do passado. Sim, consigo ainda sonhar com um futuro feliz.
Quem, no seu perfeito juizo poderá deixar de sentir-se feliz tendo um filho tão especial?
Ele é tão especial para mim, como só os “nossos” filhos podem ser para cada um de nós.

O meu Leão tem já uma história enorme. Tem já uma "bagagem" que não se adquire noutra escola senão na da vida.

A sua vida não é fácil.
Foi atingido fortemente no seu coração, mas entretanto ele mantém-se heróicamente de pé e de frente para o vento, e com a face virada para a chuva tenta que as suas lágrimas se confundam com a água que cai e não o afectem no seu orgulho férreo e leonino.
Tenta disfarçar de si próprio o desconforto que sente por vezes e tenta viver como todos os meninos da sua idade.

O meu Leãozinho é especial porque é generoso e é doce.
O meu Leãozinho é como uma acácia que me dá sombra ou como um regato de água fresca nesta imensa savana que um dia há-de ser o seu espaço e o seu território.
Este Leão, um dia, vai ser o rei deste espaço.
Preparem-se, pois para se submeterem à implacável força da sua lei, mas estejam certos que vão ser protegidos pelo apurado sentido de justiça que lhe serve de cenário na vida e que aprendeu com as feridas cicratizadas que ostenta. Essas marcas sempre lhe lembrarão os momentos em que a injustiça o feriu e fará com que guarde com unhas e dentes os que à sua volta, se encontram expostos.
Este Leão tem no coração a nobreza que só alguns compreendem e tem nos olhos um verde cheio de emoções por preencher.
Este Leão vai ter asas e vai voar.
Pode não ser muito comum um Leão ter asas, mas este vai ter, garanto-vos, e vai voar bem alto.
Aguardem para ver, e depois não digam que eu não vos avisei.
Estejam preparados para ter o verdadeiro monarca no poder.
Estejam prontos para um novo tempo na savana.
Quando o Leão reinar, esta savana será bem mais bonita.
Já faltou mais...

terça-feira, novembro 14, 2006

Olá

Bem-vindo ao meu mundo!

Que sejas muito bem-vindo a este espaço.
Ele reflete um mundo cinzento, que é o meu, mas que tem pinceladas de cores fortes e vivas. Tem por vezes em si a intensidade do vermelho paixão, a serenidade do azul céu e a força verde do mar.
Espero que não vejas apenas o negro que me escurece os dias, mas que compreendas que é a sua presença que permite o contraste com todas as cores que povoam a minha vida, e que é esse negro que faz com que estes traços de luz pareçam tão poderosos.

Por vezes sinto-me mal ao expôr perante todos, sentimentos e sensações que talvez façam sentir tristeza. Não é meu objectivo fazer sofrer ninguém, nem criar desconforto em quem quer que seja. Muito menos despertar sentimentos de pena.
É precisamente o contrário que quero provocar. Quero que quem me lê sinta vontade de viver a vida enquanto ela faz sentido. Quero que compreendam que ela nos desafia todos os dias para um combate por vezes desigual que temos que vencer, e que não vale a pena entrar nele de lágrimas nos olhos.

Escrevo hoje, especialmente para ti que visitas este blog. Escrevo-te para que não sintas um aperto no coração de cada vez que por cá passas. Espero que compreendas que este espaço é um local de desabafo, de comunicação, de partilha e de testemunho pessoal, e não mais que isso.
Todas as pessoas que me lêem sabem que nas suas vidas existem zonas escuras e áreas luminosas. Em todos nós há algo que nos escurece os dias, mas que temos a obrigação de pintar de fresco diáriamente. As paredes das nossas vidas nem sempre são o que queremos que sejam e temos que cuidar delas para que sejam o reflexo do nosso interior. Temos que sentir que em cada pincelada que lhes dámos elas ficam mais agradáveis e acolhedoras e temos que abrir janelas para que o ar que nos enche a casa não fique viciado, mas que se renove constantemente.

Espero que percebas que o meu objectivo é mostrar a todos, (inclusivé a mim), que o fundamental é o amor.
Na minha vida, um dia surgiu uma encruzilhada. Por um lado o escuro do sofrimento, e por outro o amor e a luz.
Escolhi amar, e hoje posso dizer que não haverá dor que me derrube, pois o amor é mais forte que todas as feridas e que todas as dores.
Em mim, como é compreensível, a saudade é constante, a revolta é enorme, o aperto é imenso, mas felizmente o amor é eterno.

sexta-feira, novembro 10, 2006

Castelo

Caminho devagar pela relva do teu jardim esperando que o som dos meus passos não perturbe o teu adormecer. Quando a humidade do verde já invade os alicerces do meu corpo, eis que chego perto da janela do teu quarto.
Espreito a medo, e encontro-te mergulhada nos braços de Orfeu.
Dormes profundamente, como só quem nada teme pode fazer.
Com os olhos cerrados, a face serena, o corpo descontraido e a alma tranquila dormes calmamente.

Junto à janela rasgada nas grossas paredes do teu castelo granítico, o calor do meu bafo embacia o frágil vidro enchendo-o de gotas de vida, de sonhos e de pensamentos ideais ou irreais.
Enquanto a minha cabeça voa pelos prados verdes e pelas searas ocres e o meu corpo passa num segundo das neves eternas do Evereste ao calor do Krakatoa, eu, enquanto vulgar mortal não saio do sítio onde estou assente, e sinto-me pesado demais para voar e demasiado tenso para me mover.

A vida, esse estado transitório onde os sentidos se excitam e as emoções se enchem até aos limites pára para te ver.
A vida esse tesouro que guardamos num baú, mas que um dia deixa de fazer sentido, ou que passa definitivamente a fazê-lo, pára para assistir ao teu sono solto e livre.

Olho-te uma vez mais e tento gravar na minha memória a tua imagem serena, para que me sirva de alento nos momentos mais difíceis. Sinto que o vidro inerte ou a pedra fria das paredes do castelo, me passam parte da tua calma e do teu poder ingênuo mas imenso. Sinto que te passo algum do calor do meu corpo através da mão que encosto à pedra gelada. Esse calor mecânico, orgânico e animal que me faz ainda viver, respirar e transpirar de ilusões.
Vivo na esperança de que me possas sentir um dia, de novo, e como sempre foi, antes de passares para o outro lado do muro.

Vivo o presente, pensando o futuro que teremos, um dia, quando o tempo finalmente parar. Sei que nesse dia vou passar o muro e vou acordar-te desse sono que te invade o corpo mas não a alma.
Entretanto o mundo não pára para mim, princesa.
Rodo o corpo sobre os meus pés, descolo o último dedo do vidro frio e caminho de novo sobre a erva fresca que te cerca em direcção ao mundo ao qual ainda pertenço.
Deixo-te mas não te perco.
Afasto-me mas não te esqueço.
Será sempre contigo que caminharei pela estrada da vida...
Até já princesa, e obrigado por me fazeres sempre companhia.
Beijos gordos...

quarta-feira, novembro 08, 2006

She

She

She may be the face I can't forget
The trace of pleasure or regret
Maybe my treasure or the price I have to pay
She may be the song that summer sings
May be the chill that autumn brings
May be a hundred different things
Within the measure of a day

She may be the beauty or the beast
May be the famine or the feast
May turn each day into a Heaven or a Hell
She may be the mirror of my dreams
A smile reflected in a stream
She may not be what she may seem
Inside her shell....

She, who always seems so happy in a crowd
Whose eyes can be so private and so proud
No one's allowed to see them when they cry
She maybe the love that cannot hope to last
May come to me from shadows in the past
That I remember 'till the day I die

She maybe the reason I survive
The why and wherefore I'm alive
The one I care for through the rough and ready years

Me, I'll take the laughter and her tears
And make them all my souvenirs
For where she goes I've got to be
The meaning of my life is
She....She
Oh, she....

domingo, novembro 05, 2006

LUZ

É luz o que sinto correr nas minhas veias quando penso em ti.
É luz o que tento levar-te em cada rosa.
É luz o que nos une e que nos faz estar tão perto, estando tão longe.

É a luz que permite que janelas se abram no meu coração.
É a luz que me dá alimento e força para respirar
É a luz que me faz enfrentar todos os dias este mundo negro de escuridão.

É a luz que me guia, que me mostra o caminho e que me mostra em todos os segundos da minha vida como fazes falta aqui...
É a luz que me faz viver e que me enche de alegria por ver tudo à minha volta, e de tristeza por não te ver a ti, estrelinha.

A luz és tu. Como ela, não és uma ilusão, mas a verdade das coisas.
A luz mostra o que temos, o que queriamos ter e mostra o que nos faz falta.
A luz, como tu, rasga o horizonte e mostra a realidade de tudo. Recorta a paisagem, cria sombras e faz da escuridão uma festa de cores.

A tua luz é um farol para todos os que te conheceram e que ainda hoje te reconhecem em cada gesto de uma criança, em cada sorriso de felicidade.
A tua luz não se apagou para nós, os que te amamos.
A tua luz é imensa e virámo-nos para ela sempre que o caminho se torna escuro.
Estás sempre presente e dominadora.
Como sempre! “The Boss”.

Hoje estou "down" e preciso de ti, e aí estás tu, para me ouvir.
Sei que me ouves e me lês, nos blogs da minha vida, e nos meus mais íntimos pensamentos, pois é contigo que me abro e é apenas contigo que não tenho segredos.
Espero que me mostres o caminho e que biblicamente me guies pelos caminhos poeirentos até aos teus vales verdejantes e ás tuas planícies férteis.
És a minha terra de leite e mel, e sendo a minha partida, serás sempre o meu destino.

A tua luz faz parte da minha vida para todo o sempre.
A tua luz faz-me sonhar com vida.
A vida que um dia tive e que me deixou, mas a mesma vida que nunca me poderá roubar o que já vivi.
A vida dá-nos o bom e o mau, a felicidade e a tragédia, o horror e a paixão, dá-nos a guerra e o amor. Dá-nos tudo, e tudo nos tira, só há uma coisa que não nos pode tirar: aquilo que já vivemos, aquilo que já sofremos, aquilo que já fomos, o que somos e o sonho do que queremos ser.

Mantém-te aí que eu preciso da tua luz.
Nestes dias negros, como hoje fazes-me muita falta.
Ainda bem que te sinto....

domingo, outubro 29, 2006

Será...

Ao
Longe
Brilha
Este
Roteiro
Talhado a
Ouro

Outro
Trilho
Revela
Esta
Bela
Luz
Azul

Será que estas são palavras importantes na minha vida?
Será que isto quer dizer algo sobre a minha personalidade?
Será que falo de alguém que me acompanha?
Será?
Serà?
Será?
Será?
Será?
Será?

A dúvida é a mãe da criatividade e a semente da felicidade...

sábado, outubro 28, 2006

Aos meus meninos grandes!!!

Há três estrelas neste céu que me fazem sonhar.
Depois dos dois sois que me aquecem, são o que de mais brilhante existe no meu firmamento. São o orgulho do meu canteiro. São todos especiais mas são como trés plantas bem diferentes.

Uma delas é uma rosa.
Linda, com o seu vermelho veludo. É implacável. Com os seus espinhos bem afiados demarca no jardim um espaço bem próprio. Consegue isolar-se de todas as ervas daninhas que povôam o espaço circundante e mantêm uma pose majestática, qual “Cice” entre o povo anónimo. É um caso especial. É uma força serena, mas determinada. Cuidado com ela, não se aproximem sem permissão.

Outro é um arbusto silvestre.
Tenta germinar por entre as sombras. Sempre procurando um raio de sol. Sempre pronto a ser fustigado por mais uma tempestade. Sempre forte, mesmo que marcado pelo preconceito do diferente. É pena as pessoas não perceberem que o diferente pode ser genial. Ainda um dia há-de ser reconhecido como é, silvestre, mas brilhante. Está sempre disponível para renascer com a sua característica mais marcada: a espontaniedade do Ferrão.

O outro, é uma Oliveira.
Uma árvore com os conhecimentos de séculos de existência. Uma árvore onde cada dia conta apenas com vinte e quatro horas e não mais. Um ser que arranca da terra esse azeite que serve para nos iluminar e nos dizer que o caminho é por ali! É um ser que tem que encontrar por si os seus mestres e que foi talhado para resistir a ventos, intempéries e tempestades sempre de pé. Nem sempre orgulhosamente, mas quase sempre de forma heróica. A sua casca, aparentemente forte, mantém um interior saudável.

Todos eles podem contar com aquilo que não me foi transmitido pelo exemplo mas que nasceu pelo coração. Todos eles podem contar comigo. Ontem, hoje ou amanhã, pode até não parecer, mas eu estou por aí.
Sou um puto, como esses putos grandes. Talvez um pouco mais enrrugado, talvez um pouco mais formal, talvez mais lento, ou “ligeiramente” demodé, mas um puto como eles. Sempre um puto para o resto da vida.

P.S.
Desculpem o estilo lamechas, pimba ou reles, mas hoje apeteceu-me!
É que já tenho idade para fazer o que me apetece!
E afinal o blog é meu....

domingo, outubro 15, 2006

Ocaso

Do alto da colina ainda se avistam os movimentos apressados dos retardatários. Os últimos raios de luz ainda rasgam a escuridão e ajudam os humanos nos seus comezinhos movimentos quotidianos. Há já luzes que se acendem para combater o negro e fogos que se ateiam para vencer a fome. A mão humana abranda e os seus servos recolhem para o rotineiro descanso. A natureza toma de novo o controlo sem necessidade de violência. Os animais podem de novo sair e procurar alimento sem sobressalto e as plantas podem esticar-se na humidade refrescante do crepúsculo.
O reino está quase em plena ordem, e basta o último brilho do astro rei desaparecer para que seja retomada a energia da noite.
Do alto desta colina, de onde já assisti a muitos dias e muitas noites de vida, onde já fui testemunha de muitos momentos e onde já fui fustigado por grandes temporais. Do alto desta colina, onde tive todo o tempo do mundo para observar o dia e a noite, quero aproveitar o tempo que me resta de pé. Quero assistir a mais um pôr-do-sol e depois ao seu nascer do outro lado.

Já que estou preso a este solo, já que não posso procurar outro lugar que me pinte os ramos do verde que já ostentei, pelo menos posso aproveitar o facto de ter brotado num local que me consumiu tão rápidamente, mas que me deu tanto a ver e a aprender. Quero aproveitar-me da sorte que tive em ser durante muitos anos o primeiro a ver a luz e o último a deixar de senti-la. Fui sempre aquele que do alto, melhor viu o escuro da noite e pôde sentir dela o seu mais intenso poder regenerador.
Os meus ramos estão agora secos e neles já não corre a seiva que me fazia pulsar de vida mas a luz ainda não atravessa livremente este espaço. A minha sombra, é hoje uma reverência do sol, áquilo que já fui. A minha sombra, é hoje apenas um tributo à minha memória.
Em breve virá outro inverno, e talvez eu não resista de pé. Talvez o meu corpo seja quebrado pelo vento ou pelo peso da neve nos meus ramos. Talvez a minha vida fosse mais longa no vale junto ao ribeiro, mas eu prefiro assim. Prefiro ter visto o que vi, ter sentido o que senti, ter tido do mundo esta visão que ainda me faz perder o fôlego....
Espero que um dia, uma semente brote neste local e que aos poucos vá tomando conta da paisagem e conhecendo tudo o que se encontra aos seus pés.
Quando um dia essa semente estiver exaurida de todos os seus recursos e já nada lhe reste além de memórias pode ser que pense tal como eu que foi rápido mas que pelo menos valeu a pena.

sexta-feira, outubro 06, 2006

Energia

Transportado pela música vou subindo aos poucos a montanha. Caminho com passos lentos mas seguros de quem faz do caminho o seu destino. Por vezes, como agora, a música leva-me longe. Vou por caminhos diversos, mas passo sempre por sítios lindos, alguns dos quais estão bem longe no passado, e é tão bom lá voltar.

Na viagem, por vezes sinto que estás próxima, sinto o teu cheiro, ouço o teu riso e vejo os teus olhos lindos e sempre cheios de felicidade e de vida.
Claro que a Lacrimosa de Mozart dá uma ajuda. Essa pode ser a melodia triste que mais me alegra, porque nos une. Talvez os outros não compreendam como é possível ir por aqui, mas cada um tem o seu caminho próprio. Além disso, há caminhos que têm que se fazer sózinhos. Nós e o nosso cajado, que pode ser feito do som dos violinos ou da força das vozes.

A viagem nunca pára, e mesmo de noite caminha-se. Mesmo nos sonhos, a viagem faz-se, e é por vezes neles que chegamos mais perto.
É quase físico, o que se passa nos sonhos. Neles, os nossos dedos são como os que Michelangelo pintou na capela sistina: não se chegam a tocar, mas mesmo assim, a energia passa de um para o outro.

A música, também não nos toca, mas dá-nos energia, e o importante é saber usá-la para não ter que se parar nunca.
Seja no Requiem, seja no tecto sistino, seja na vida, o importante é o que se transmite.
O que se dá e o que se recebe.
O que conta é a energia. O resto é só matéria.

quinta-feira, outubro 05, 2006

Asas

Preciso de asas.
Preciso de voar, e o mundo prende-me tanto.
Prende-me, esse espaço em que somos todos e em que somos sós.
O mundo, com os seus braços longos e tingidos de negro, prende-me.
Com esses braços que me fazem sentir pequenino.
Com esses braços que me apertam e que não me deixam ser livre.

Preciso desesperadamente de umas asas.
Quero voar para ti, mas não posso ainda.
Quero muito voar.
Ainda não levantei os pés do chão mas sou Ícaro em direcção a ti.
Sempre me encantou a tua luz.
Vou em vôo, mas no entanto ainda não parti.
Vôo directo para ti, mas ainda não descobri a rota.
Não faz sentido voar, se ainda não se tem asas ou se ainda não se sabe para onde ir, mas eu já vôo.
Quero treinar, quero estar preparado. Quero partir logo que seja possível e do alto descobrir o caminho.

Sei que estás aí. Sei que me esperas e sei que é só um instante para ti mas uma eternidade para mim.
Daí, do alto, a vista é mais rasgada e o horizonte é mais vasto.
Tudo deve parecer mais fácil.
Daqui, vê-se tão pouco.
Daqui, o horizonte é tão curto.
Aí deve ser tão lindo!
Basta ver a maneira como brilhas e o calor que emanas.

Hei-de aí chegar, e havemos de voar juntos.
Havemos de planar sobre este mundo e observá-lo sem que os seus braços nos alcancem e nos privem do nosso vôo.
Espera só mais um pouco. Vou chegar a ti, e juntos vamos chegar ao céu.
Não ao céu que nos venderam, mas sim a esse céu de liberdade e de amor eterno onde estás.

Espera só mais um pouco.
Um dia destes vou dizer-te ao ouvido: Vamos voar juntos.

sexta-feira, setembro 29, 2006

Palavras

Estou contigo outra vez. Hoje, como sempre, estou contigo.
Sinto-te nos olhos das crianças que brincam, e na excitação feliz de quem está apaixonado.
Sinto-te na imensidão azul do mar, na luz fria da lua e no grito imenso da liberdade.
Sinto-te, sem te poder tocar. Mas sinto-te.

Sinto-te por dentro de mim. Na mais infíma célula do meu corpo, no mais intímo que houver.
Sinto-te no mais pequeno átomo que molda o meu corpo e na mais ténue brisa que move o meu céu.

Sempre que penso em ti, pára-se-me o coração por uma batida. Adio o meu tempo por um segundo e ficamos um pouco mais longe no tempo, mas mais perto no espaço.
Por um momento, passo à tua dimensão. Por um momento, seca-se a boca e fecham-se os olhos. Adiam-se os sentidos, mas nunca os sentimentos.
Por um momento, sou como tu: felicidade, luz e paz.
Por um momento sou feliz, como tu.

Nesse momento, necessito de te estender a mão, de te puxar para junto de mim, de onde nunca devias ter saído, mas sei que não posso, e quero pelo menos oferecer-te o pouco que tenho.
Hoje ofereço-te só palavras. Não tenho mais nada. Só palavras simples, mas sentidas.
Apenas letras ordenadas, encostadas umas às outras.
Simbolos que nos recordam sons. Sensações que ecoam na nossa cabeça e nos fazem viver.

As palavras são apenas as escravas dos sentidos. São tudo o que quisermos que sejam.
São boas ou são más, mas SÃO.

As palavras existem, como tu. São minhas quando as escrevo, e são depois, de quem as ler.
Como tu, as palavras existem nas minha memória e no interior da minha cabeça. Como as palavras, tu, estás sempre, sempre presente.

Sente cada palavra minha como as rosas que te queria oferecer.
Ás rosas, apenas as podes ver, mas ás palavras, sei que podes senti-las.
Têm cheiro e não murcham, nem secam. Podem secar-nos por dentro, mas permanecem sempre com a mesma força que lhe imprimimos ao escrever.

Hoje, quero que fiques com as palavras.
Dorme com elas e sonha comigo, como eu vou sonhar contigo.
Pára o relógio, e pensa nos momentos em que fomos felizes.
Faz como eu, vai vivendo de memórias que o mundo lá fora está mau.

Dorme bem, gorda maluca.
O pai ama-te muito.

sexta-feira, setembro 22, 2006

Estrelinha

No centro do meu céu, estás tu.
Menina linda e feliz. Como sempre te conheci.
És a estrela mais linda.
A única que pinta de cor um céu vazio de luz e de sons.
Um céu amorfo onde habito, e onde sou apenas um grão de poeira à espera que um corpo maior me chame e me puxe com a sua força para junto de si.
És como um sol que me ilumina e me dá energia.
Um sol que temo por estar sempre lá, onde não posso alcançar.
Um sol que me dá vida sem me tocar sequer, mas que me aquece e que está sempre encostado na minha pele.
És o sonho ao acordar, quase real.
Tão real como o tempo que passa rápido, mesmo quando durmo e sonho contigo.
Habitas o imaginário de todos nós, os que te conheceram.
És como a bussola que me orienta.


No SUL, o sofrimento, o mal, a dor e o medo. O negro de te perder e o amargo de não te poder abraçar contra o meu peito.

A LESTE, a mágoa, a saudade e a nostalgia. O cinzento dos dias que passo à espera de me juntar a ti.

A OESTE, a esperança, a razão e o mar. O azul intenso que nos transporta e que nos faz sonhar sempre contigo.

Ao NORTE, estás tu. O Iman no topo. A luz, a alegria, o prazer e a liberdade de seres simplesmente tu. O vermelho do fogo no ar e o cheiro dos sonhos que tinhas o direito de transformar em realidade.

Nunca foste a lua que tanto amaste. Sempre tiveste luz própria e nunca ocultaste face alguma pois em ti sempre esteve a luz que agora está mais longe, mas que continua a guiar-me.
Para te ver basta fechar os olhos e para te sentir basta continuar a amar-te. Ouço-te no silêncio que é agora a tua voz e para te abraçar escrevo-te como se fosse preciso leres-me para sentires o cheiro do sal que me escorre pela pele.

És como a minha estrelinha. Posso não te ver, mas sei que estás aí.

quinta-feira, setembro 21, 2006

Primeiro Acto

Na torre mais alta do castelo dos sonhos dorme uma Princesa linda, linda, linda... Linda como eu nunca vi nem jamais verei.
Subitamente, o seu sorriso, mais doce que o mel e mais quente que o sol olhou-me no fundo dos olhos ferindo-me.
Lentamente o meu céu vestiu-se de cores fortes e agradeci à vida ela ter-se lembrado de fitar-me no meu intímo, ainda que tivesse sido por breves instantes.
De repente, e sem que nada o indicasse, partiu e voou com a brisa do campo por entre as flores, misturando-se com os dedos oscilantes das árvores e tocando ao de leve nas folhas mais tenras.
Foram nesse momento revelados segredos em seu nome, para que as ervas frescas, a urze, e o restolho da imensa planicie soubessem da luz que trazia sempre consigo.
Nunca mais brilhará uma tal luz no céu deste chão poeirento, mas ele não esquecerá os dias em que foi iluminado por ela.