sexta-feira, setembro 29, 2006

Palavras

Estou contigo outra vez. Hoje, como sempre, estou contigo.
Sinto-te nos olhos das crianças que brincam, e na excitação feliz de quem está apaixonado.
Sinto-te na imensidão azul do mar, na luz fria da lua e no grito imenso da liberdade.
Sinto-te, sem te poder tocar. Mas sinto-te.

Sinto-te por dentro de mim. Na mais infíma célula do meu corpo, no mais intímo que houver.
Sinto-te no mais pequeno átomo que molda o meu corpo e na mais ténue brisa que move o meu céu.

Sempre que penso em ti, pára-se-me o coração por uma batida. Adio o meu tempo por um segundo e ficamos um pouco mais longe no tempo, mas mais perto no espaço.
Por um momento, passo à tua dimensão. Por um momento, seca-se a boca e fecham-se os olhos. Adiam-se os sentidos, mas nunca os sentimentos.
Por um momento, sou como tu: felicidade, luz e paz.
Por um momento sou feliz, como tu.

Nesse momento, necessito de te estender a mão, de te puxar para junto de mim, de onde nunca devias ter saído, mas sei que não posso, e quero pelo menos oferecer-te o pouco que tenho.
Hoje ofereço-te só palavras. Não tenho mais nada. Só palavras simples, mas sentidas.
Apenas letras ordenadas, encostadas umas às outras.
Simbolos que nos recordam sons. Sensações que ecoam na nossa cabeça e nos fazem viver.

As palavras são apenas as escravas dos sentidos. São tudo o que quisermos que sejam.
São boas ou são más, mas SÃO.

As palavras existem, como tu. São minhas quando as escrevo, e são depois, de quem as ler.
Como tu, as palavras existem nas minha memória e no interior da minha cabeça. Como as palavras, tu, estás sempre, sempre presente.

Sente cada palavra minha como as rosas que te queria oferecer.
Ás rosas, apenas as podes ver, mas ás palavras, sei que podes senti-las.
Têm cheiro e não murcham, nem secam. Podem secar-nos por dentro, mas permanecem sempre com a mesma força que lhe imprimimos ao escrever.

Hoje, quero que fiques com as palavras.
Dorme com elas e sonha comigo, como eu vou sonhar contigo.
Pára o relógio, e pensa nos momentos em que fomos felizes.
Faz como eu, vai vivendo de memórias que o mundo lá fora está mau.

Dorme bem, gorda maluca.
O pai ama-te muito.

sexta-feira, setembro 22, 2006

Estrelinha

No centro do meu céu, estás tu.
Menina linda e feliz. Como sempre te conheci.
És a estrela mais linda.
A única que pinta de cor um céu vazio de luz e de sons.
Um céu amorfo onde habito, e onde sou apenas um grão de poeira à espera que um corpo maior me chame e me puxe com a sua força para junto de si.
És como um sol que me ilumina e me dá energia.
Um sol que temo por estar sempre lá, onde não posso alcançar.
Um sol que me dá vida sem me tocar sequer, mas que me aquece e que está sempre encostado na minha pele.
És o sonho ao acordar, quase real.
Tão real como o tempo que passa rápido, mesmo quando durmo e sonho contigo.
Habitas o imaginário de todos nós, os que te conheceram.
És como a bussola que me orienta.


No SUL, o sofrimento, o mal, a dor e o medo. O negro de te perder e o amargo de não te poder abraçar contra o meu peito.

A LESTE, a mágoa, a saudade e a nostalgia. O cinzento dos dias que passo à espera de me juntar a ti.

A OESTE, a esperança, a razão e o mar. O azul intenso que nos transporta e que nos faz sonhar sempre contigo.

Ao NORTE, estás tu. O Iman no topo. A luz, a alegria, o prazer e a liberdade de seres simplesmente tu. O vermelho do fogo no ar e o cheiro dos sonhos que tinhas o direito de transformar em realidade.

Nunca foste a lua que tanto amaste. Sempre tiveste luz própria e nunca ocultaste face alguma pois em ti sempre esteve a luz que agora está mais longe, mas que continua a guiar-me.
Para te ver basta fechar os olhos e para te sentir basta continuar a amar-te. Ouço-te no silêncio que é agora a tua voz e para te abraçar escrevo-te como se fosse preciso leres-me para sentires o cheiro do sal que me escorre pela pele.

És como a minha estrelinha. Posso não te ver, mas sei que estás aí.

quinta-feira, setembro 21, 2006

Primeiro Acto

Na torre mais alta do castelo dos sonhos dorme uma Princesa linda, linda, linda... Linda como eu nunca vi nem jamais verei.
Subitamente, o seu sorriso, mais doce que o mel e mais quente que o sol olhou-me no fundo dos olhos ferindo-me.
Lentamente o meu céu vestiu-se de cores fortes e agradeci à vida ela ter-se lembrado de fitar-me no meu intímo, ainda que tivesse sido por breves instantes.
De repente, e sem que nada o indicasse, partiu e voou com a brisa do campo por entre as flores, misturando-se com os dedos oscilantes das árvores e tocando ao de leve nas folhas mais tenras.
Foram nesse momento revelados segredos em seu nome, para que as ervas frescas, a urze, e o restolho da imensa planicie soubessem da luz que trazia sempre consigo.
Nunca mais brilhará uma tal luz no céu deste chão poeirento, mas ele não esquecerá os dias em que foi iluminado por ela.