domingo, outubro 29, 2006

Será...

Ao
Longe
Brilha
Este
Roteiro
Talhado a
Ouro

Outro
Trilho
Revela
Esta
Bela
Luz
Azul

Será que estas são palavras importantes na minha vida?
Será que isto quer dizer algo sobre a minha personalidade?
Será que falo de alguém que me acompanha?
Será?
Serà?
Será?
Será?
Será?
Será?

A dúvida é a mãe da criatividade e a semente da felicidade...

sábado, outubro 28, 2006

Aos meus meninos grandes!!!

Há três estrelas neste céu que me fazem sonhar.
Depois dos dois sois que me aquecem, são o que de mais brilhante existe no meu firmamento. São o orgulho do meu canteiro. São todos especiais mas são como trés plantas bem diferentes.

Uma delas é uma rosa.
Linda, com o seu vermelho veludo. É implacável. Com os seus espinhos bem afiados demarca no jardim um espaço bem próprio. Consegue isolar-se de todas as ervas daninhas que povôam o espaço circundante e mantêm uma pose majestática, qual “Cice” entre o povo anónimo. É um caso especial. É uma força serena, mas determinada. Cuidado com ela, não se aproximem sem permissão.

Outro é um arbusto silvestre.
Tenta germinar por entre as sombras. Sempre procurando um raio de sol. Sempre pronto a ser fustigado por mais uma tempestade. Sempre forte, mesmo que marcado pelo preconceito do diferente. É pena as pessoas não perceberem que o diferente pode ser genial. Ainda um dia há-de ser reconhecido como é, silvestre, mas brilhante. Está sempre disponível para renascer com a sua característica mais marcada: a espontaniedade do Ferrão.

O outro, é uma Oliveira.
Uma árvore com os conhecimentos de séculos de existência. Uma árvore onde cada dia conta apenas com vinte e quatro horas e não mais. Um ser que arranca da terra esse azeite que serve para nos iluminar e nos dizer que o caminho é por ali! É um ser que tem que encontrar por si os seus mestres e que foi talhado para resistir a ventos, intempéries e tempestades sempre de pé. Nem sempre orgulhosamente, mas quase sempre de forma heróica. A sua casca, aparentemente forte, mantém um interior saudável.

Todos eles podem contar com aquilo que não me foi transmitido pelo exemplo mas que nasceu pelo coração. Todos eles podem contar comigo. Ontem, hoje ou amanhã, pode até não parecer, mas eu estou por aí.
Sou um puto, como esses putos grandes. Talvez um pouco mais enrrugado, talvez um pouco mais formal, talvez mais lento, ou “ligeiramente” demodé, mas um puto como eles. Sempre um puto para o resto da vida.

P.S.
Desculpem o estilo lamechas, pimba ou reles, mas hoje apeteceu-me!
É que já tenho idade para fazer o que me apetece!
E afinal o blog é meu....

domingo, outubro 15, 2006

Ocaso

Do alto da colina ainda se avistam os movimentos apressados dos retardatários. Os últimos raios de luz ainda rasgam a escuridão e ajudam os humanos nos seus comezinhos movimentos quotidianos. Há já luzes que se acendem para combater o negro e fogos que se ateiam para vencer a fome. A mão humana abranda e os seus servos recolhem para o rotineiro descanso. A natureza toma de novo o controlo sem necessidade de violência. Os animais podem de novo sair e procurar alimento sem sobressalto e as plantas podem esticar-se na humidade refrescante do crepúsculo.
O reino está quase em plena ordem, e basta o último brilho do astro rei desaparecer para que seja retomada a energia da noite.
Do alto desta colina, de onde já assisti a muitos dias e muitas noites de vida, onde já fui testemunha de muitos momentos e onde já fui fustigado por grandes temporais. Do alto desta colina, onde tive todo o tempo do mundo para observar o dia e a noite, quero aproveitar o tempo que me resta de pé. Quero assistir a mais um pôr-do-sol e depois ao seu nascer do outro lado.

Já que estou preso a este solo, já que não posso procurar outro lugar que me pinte os ramos do verde que já ostentei, pelo menos posso aproveitar o facto de ter brotado num local que me consumiu tão rápidamente, mas que me deu tanto a ver e a aprender. Quero aproveitar-me da sorte que tive em ser durante muitos anos o primeiro a ver a luz e o último a deixar de senti-la. Fui sempre aquele que do alto, melhor viu o escuro da noite e pôde sentir dela o seu mais intenso poder regenerador.
Os meus ramos estão agora secos e neles já não corre a seiva que me fazia pulsar de vida mas a luz ainda não atravessa livremente este espaço. A minha sombra, é hoje uma reverência do sol, áquilo que já fui. A minha sombra, é hoje apenas um tributo à minha memória.
Em breve virá outro inverno, e talvez eu não resista de pé. Talvez o meu corpo seja quebrado pelo vento ou pelo peso da neve nos meus ramos. Talvez a minha vida fosse mais longa no vale junto ao ribeiro, mas eu prefiro assim. Prefiro ter visto o que vi, ter sentido o que senti, ter tido do mundo esta visão que ainda me faz perder o fôlego....
Espero que um dia, uma semente brote neste local e que aos poucos vá tomando conta da paisagem e conhecendo tudo o que se encontra aos seus pés.
Quando um dia essa semente estiver exaurida de todos os seus recursos e já nada lhe reste além de memórias pode ser que pense tal como eu que foi rápido mas que pelo menos valeu a pena.

sexta-feira, outubro 06, 2006

Energia

Transportado pela música vou subindo aos poucos a montanha. Caminho com passos lentos mas seguros de quem faz do caminho o seu destino. Por vezes, como agora, a música leva-me longe. Vou por caminhos diversos, mas passo sempre por sítios lindos, alguns dos quais estão bem longe no passado, e é tão bom lá voltar.

Na viagem, por vezes sinto que estás próxima, sinto o teu cheiro, ouço o teu riso e vejo os teus olhos lindos e sempre cheios de felicidade e de vida.
Claro que a Lacrimosa de Mozart dá uma ajuda. Essa pode ser a melodia triste que mais me alegra, porque nos une. Talvez os outros não compreendam como é possível ir por aqui, mas cada um tem o seu caminho próprio. Além disso, há caminhos que têm que se fazer sózinhos. Nós e o nosso cajado, que pode ser feito do som dos violinos ou da força das vozes.

A viagem nunca pára, e mesmo de noite caminha-se. Mesmo nos sonhos, a viagem faz-se, e é por vezes neles que chegamos mais perto.
É quase físico, o que se passa nos sonhos. Neles, os nossos dedos são como os que Michelangelo pintou na capela sistina: não se chegam a tocar, mas mesmo assim, a energia passa de um para o outro.

A música, também não nos toca, mas dá-nos energia, e o importante é saber usá-la para não ter que se parar nunca.
Seja no Requiem, seja no tecto sistino, seja na vida, o importante é o que se transmite.
O que se dá e o que se recebe.
O que conta é a energia. O resto é só matéria.

quinta-feira, outubro 05, 2006

Asas

Preciso de asas.
Preciso de voar, e o mundo prende-me tanto.
Prende-me, esse espaço em que somos todos e em que somos sós.
O mundo, com os seus braços longos e tingidos de negro, prende-me.
Com esses braços que me fazem sentir pequenino.
Com esses braços que me apertam e que não me deixam ser livre.

Preciso desesperadamente de umas asas.
Quero voar para ti, mas não posso ainda.
Quero muito voar.
Ainda não levantei os pés do chão mas sou Ícaro em direcção a ti.
Sempre me encantou a tua luz.
Vou em vôo, mas no entanto ainda não parti.
Vôo directo para ti, mas ainda não descobri a rota.
Não faz sentido voar, se ainda não se tem asas ou se ainda não se sabe para onde ir, mas eu já vôo.
Quero treinar, quero estar preparado. Quero partir logo que seja possível e do alto descobrir o caminho.

Sei que estás aí. Sei que me esperas e sei que é só um instante para ti mas uma eternidade para mim.
Daí, do alto, a vista é mais rasgada e o horizonte é mais vasto.
Tudo deve parecer mais fácil.
Daqui, vê-se tão pouco.
Daqui, o horizonte é tão curto.
Aí deve ser tão lindo!
Basta ver a maneira como brilhas e o calor que emanas.

Hei-de aí chegar, e havemos de voar juntos.
Havemos de planar sobre este mundo e observá-lo sem que os seus braços nos alcancem e nos privem do nosso vôo.
Espera só mais um pouco. Vou chegar a ti, e juntos vamos chegar ao céu.
Não ao céu que nos venderam, mas sim a esse céu de liberdade e de amor eterno onde estás.

Espera só mais um pouco.
Um dia destes vou dizer-te ao ouvido: Vamos voar juntos.