
E um dia ganhei coragem, e num passo fiz-me homem grande
Deixei para trás as tentativas, o faz de conta, o brincar de viver
Dei um passo, e com os olhos no fio que me sustém avancei
Carreguei comigo o coração de menino e o olhar frágil de quem tem um medo de morte
Fiz-me forte, e ainda que com as pernas bambas seguisse, avancei
Fui em frente, segui viagem, arrisquei a vida neste fio
Agora que já caminho há algum tempo por aqui
Estou na corda, estou seguro, sigo em passo firme
As pernas já não tremem, o olhar é sábio
O coração, esse é ainda o do menino que um dia pisou este arame
Sigo em frente, engano o abismo que me chama
Enfrento-o e atravesso-o, sempre por cima, sempre no topo
Aprendi a caminhar neste arame
Aprendi a suportar este vento que me empurra
Esta gravidade que me puxa
O desconforto delgado deste chão tão minúsculo mas tão seguro
Sei hoje que os elementos existem, mas que o fio estará sempre lá para me amparar
E sinto que há três coisas que me ajudam a atravessar o abismo
A confiança o equilibrio...
e...
o fio...